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10.6.06

A PRESENÇA do TEATRO/EXPRESSÃO DRAMÁTICA na EDUCAÇÃO - Isabel Bezelga





A evolução da expressão Dramática/Teatro no seio das várias áreas de Expressão Artística – 3º ciclo e Secundário

Não pretendendo realizar um panorama exaustivo da presença do teatro/expressão dramática no currículo formal dos jovens portugueses convém referir a breve experiência pedagógica da disciplina de Opção de Teatro no 9º Ano surgida nos finais da década de 70 a par da existência dos muitos clubes de teatro espalhados pelas escolas. A par da presença obrigatória de disciplinas de Educação Visual, era oferecida ainda a opção de Artes Plásticas no 9º Ano largamente implantada nas escolas acompanhada de múltiplos clubes dentro da área, desde a fotografia à azulejaria. A Música embora pudesse igualmente ser oferecida como disciplina de opção teve pouca expressão existindo no entanto alguns clubes em funcionamento. Este panorama face à música ficou a dever-se sobretudo à falta de docentes especializados e, na quase totalidade, à sua integração nos quadros do 2º Ciclo onde a disciplina de Educação Musical é obrigatória. A Dança assinalava a sua presença nalguns clubes de escola, maioritariamente na perspectiva das danças tradicionais e em larga escala dinamizados por Professores de Educação Física.

Já no final da década de 80, com a generalização da Reforma que entre outras coisas alargou a escolaridade básica para nove anos, no âmbito do ensino secundário criou-se o Agrupamento de Artes (exclusivamente ligado às Artes Visuais) e em 1989 a Oficina de Expressão Dramática e a Oficina de Artes que após mais de uma década de funcionamento se viram extintas com a nova Reforma do Secundário.
Criaram-se igualmente alguns cursos tecnológicos de carácter pré-profissionalizante, (exp. Animação social ) predominantemente vocacionados para a entrada na vida activa,
Onde as áreas de expressão artística marcaram presença.

Com as alterações curriculares introduzidas em 2001 nomeadamente através da elaboração das Competências Essenciais para a Educação Básica, novos espaços se abriram no seio do currículo formal do 3º Ciclo, para as áreas artísticas. Assim sendo, num ciclo de estudos de 3 anos (7º, 8º e 9º) onde até então, apenas as artes plásticas se encontravam representadas no currículo, passou a ser possível oferecer aos alunos uma segunda área de expressão artística de oferta de escola. Para tal elaboraram-se Orientações Curriculares para 3 novas disciplinas: Música; Dança e Oficina de Teatro.
No projecto de reforma do Ensino Secundário, foi proposto um curso de Artes do Espectáculo de que ainda não se sabe os contornos. Até ao momento apenas existe com presença consistente a área das Artes Visuais.

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE TEATRO

Será oportuno abrir um espaço de reflexão sobre a formação de professores na área do teatro / expressão dramática, quer no que concerne à formação inicial de docentes especialistas na área e à sua situação profissional, quer no que toca à formação contínua de docentes de outras áreas de conhecimento, mas que por imperativos do sistema escolar, se encontram responsáveis pela docência da Oficina de Teatro no Ensino Básico ou a desenvolver projectos de índole teatral na escola.

Convém relembrar aqui, no pós 25 de Abril de 1974, o importante papel desempenhado pela oferta de “movimento e drama” nos cursos de formação de professores, inicialmente nos antigos magistérios primários e posteriormente nas Escolas Superiores de Educação que viriam a gerar um movimento sem paralelo em prole da Expressão Dramática, traduzido na criação da A.P.E.D. com a realização de importantes Encontros de nível internacional e mais tarde com os “Encontros de Teatro na Escola”

Os docentes destas áreas eram oriundos quase exclusivamente de duas escolas (Escola de Teatro e Escola de Educação pela Arte) sedeadas na mesma instituição, o Conservatório Nacional.
Apresentamos, um panorama não exaustivo da oferta da formação institucional de nível superior (Universidades e Institutos Politécnicos) em Teatro/Expressão Dramática na Educação com saídas profissionais previstas para a educação, que neste momento é disponibilizada em Portugal e que nos poderá levar a concluir que afinal existe já uma oferta diversificada e relativamente distribuída geograficamente tendo em conta a dimensão do país, contrastando com a situação existente nos finais da década de 80.
Temos assim ao nível de licenciatura a oferta de 5 cursos específicos : Licenciatura em Estudos Teatrais da Universidade de Évora; Licenciatura em Teatro e Educação da E.S.E. do Instituto Politécnico de Coimbra; Licenciatura em Teatro da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, do Instituto Politécnico de Leiria; Licenciatura em Teatro – Ramo de Teatro e Educação da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa; Licenciatura em Teatro e Artes Performativas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Convém ainda relembrar a existência de formação institucional técnico-vocacional nos domínios da formação de actores, da realização plástica do espectáculo, de técnicas de iluminação e som, de gestão e produção do espectáculo e ainda de estudos teatrais, oferecida quer ao nível 3 da formação profissional quer ao nível de bacharelato e licenciatura.

Se analisarmos o que se passa ao nível da formação ao longo da vida temos que levar em linha de conta dois tipos de formação distinta:
Aquela que provem da frequência de longa duração (2/3/4 semestres) de estudos especializados ou pós graduados, promovidos por instituições de Ensino Superior, em que se encontram formandos oriundos da área do teatro ou de outras áreas e por outro lado aquela que provem da frequência de acções de formação (de 25 a 50 horas) promovida por Centros de Formação acreditados pelo Conselho Coordenador da Formação Contínua.


Quanto aos estudos especializados ou pós graduados, promovidos por instituições de Ensino Superior através da análise dos dados constata-se que desde o inicio da década de 90, inúmeros CESES permitiram a muitos professores generalistas a obtenção de grau de licenciado, contemplando a formação nas várias áreas de educação artística. Em 1994 com a criação do CESE em Teatro e Educação na Escola Superior de Teatro e Cinema (que pela primeira vez cruzou experiências e saberes de formandos oriundos do teatro com formandos já diplomados noutras áreas do saber, mas com experiência teatral ) tem-se vindo a assistir a um crescimento da oferta pós-graduada um pouco por todo o país. São exemplo disso os Mestrados da Faculdade de Letras e o da Universidade do Algarve e as pós-graduações no Instituto Politécnico do Porto.

No que se refere à oferta de formação contínua na área do teatro, para os docentes do Ensino Básico, tendo em conta os dados divulgados pelo Conselho Coordenador da Formação Contínua, do conjunto de acções creditadas para serem realizadas até 2007, constata-se que existe uma tendência de oferta de pelo menos uma acção de formação nesta área por Centro de Formação, sendo neste momento 525 os Centros de Formação com acções creditadas até 2007.
Constatámos que não sendo considerada um eixo prioritário de formação, largamente suplantada por outros tipos de oferta, continua a existir formação contínua na área e equilibradamente distribuída a nível nacional.
Na sua maioria as acções são dirigidas a docentes de todos os níveis de ensino: Educadores de Infância e Professores dos Ensinos Básico e Secundário
Assiste-se a uma grande diferença de horas de formação indo das 25 horas -1 crédito até 150 horas – 6 créditos

É evidente que nada nos assegura que pelo facto de uma acção de formação em teatro/expressão dramática constar da extensa lista de formação disponibilizada por determinado Centro de Formação, se venha a realizar.
Acresce ainda que as recentes medidas de congelamento de progressão nas carreiras do pessoal docente e a indefinição de linhas orientadoras da formação contínua junto dos Centros de Formação irão por certo afectar estas áreas de formação.


Questões que se colocam ao desenvolvimento profissional dos professores de Teatro / Expressão Dramática

Ausência de área ou grupo disciplinar das áreas artísticas performativas
Necessitamos nesta altura de ter em consideração que os docentes oriundos da formação inicial de nível superior em teatro, mesmo que com habilitação própria e estágio pedagógico ( como acontece com os licenciados em Estudos Teatrais – Via Ensino da Universidade de Évora) estão impedidos de concorrer à docência da Oficina de Teatro, por esta não estar disponível para concurso nacional e não existir um grupo disciplinar específico.

A disciplina é de opção e oferta de escola, existindo ainda um normativo tendente a que a oferta da disciplina tenha em conta a existência de docentes efectivos da escola que a queiram dar. Estas medidas são em maior ou menor grau escrupulosamente cumpridas pelas Direcções Regionais de Educação.
Os docentes diplomados com habilitação específica na área do Teatro que ainda se encontram nalgumas escolas, podem ser comparados a “pequenos peixes ainda não apanhados pelas malhas da rede”.

Rede escolar
Não se dispõe de dados fiáveis quanto ao número dos que se encontram nesta situação. Há já alguns anos, em 1997, através de dados incompletos recolhidos pela APED, nesta situação situavam-se sensivelmente 120 docentes, maioritariamente ligados à disciplina de O.E.D. no Ensino Secundário, criada no âmbito da Reforma Curricular em 90/91. Em 2003 através de um levantamento levado a efeito junto das Direcções Regionais de Educação existiam 95 escolas com oferta de O.E.D.
Hoje, extinta a disciplina de O.E.D (raríssimas excepções ocorrem com a oferta da disciplina no 12º Ano), e segundo dados das diferentes D.R.E. existem mais de 150 escolas com oferta de Oficina de Teatro no 3º Ciclo, no entanto este número pode ser mais elevado

Formação docente
No início das O.E.D (s) e já anteriormente para a opção de teatro no 9º Ano dos Cursos Unificados, se recorria maioritariamente a profissionais do teatro sem experiência pedagógica.
Desde aí, um pouco por todo o país, várias instituições de Ensino Superior , como já constatámos, têm vindo a lançar no terreno profissionais qualificados, o que sugere uma notória desarticulação entre o Ensino Superior (criação de cursos especializados em Teatro e Educação) e a orientação das políticas educativas na reestruturação do Ensino Básico e Secundário, não só através da extinção progressiva das O.E.D(s) e da suspensão do arranque do Curso Geral das Artes do Espectáculo, previstos pela Nova Reforma do Ensino Secundário, mas também através das dificuldades colocadas pelas Direcções Regionais de Educação às escolas, no que concerne à autorização de abertura da Oficina de Teatro no Ensino Básico, fazendo-a depender da existência de um docente da escola, habilitado ou não em Teatro, que queira assegurar a docência da disciplina.
Excepcionalmente as escolas conseguem recrutar docentes especializados através do recuso a concursos locais.
Da experiência concreta do caso da Licenciatura em Estudos Teatrais que tenho vindo a acompanhar desde o início, constato que praticamente todos os diplomados estão apesar destas condicionantes, a leccionar Oficina de Teatro ou/e O.E.D. de uma forma precária, nunca sabendo no final do ano lectivo se o seu trabalho terá continuidade.




Isabel Bezelga